sexta-feira, julho 30, 2004

Nefelibatas

O corrector ortográfico não aceitou "neoliberal" e propôs a sua substituição por "nefelibata", palavra que, confesso, desconhecia por completo. Fui ver o significado:

adj. e s. 2 gén.,
que ou pessoa que anda nas nuvens;

Lit.,
diz-se do literado ou poeta excêntrico, que desconhece ou despreza os processos conhecidos e o bom senso literário;

designação de uma escola de poetas que, presos de um ideal elevado e preocupados com o requinte e a musicalidade da forma, se afastavam dos cânones consagrados na literatura;

fig.,
indivíduo que, animado de um ideal, não atende aos factos da vida real, positiva.


Decidi aceitar a proposta do corrector, embora a esta palavra lhe escape o aspecto mercantil da coisa.

Paisagens inviáveis

Impressiona-me o modo como os extremismos linearizam a realidade, expurgando-a da sua inevitável complexidade para sobre ela construírem um discurso baseado em uma ou duas ideias simples que são repetidas à exaustão, recortando sempre a realidade para que a coisa faça sentido. É como nos filmes: "boy meets girl" e a história está feita.

O extremismo liberal, aplicado aos fogos florestais, como o faz João Miranda aqui é um exemplo típico. Numa curiosa versão verde da mão invisível, JM argumenta que o Estado, ao financiar a reflorestação, cria zonas contínuas de biomassa (de que se alimentam os fogos), o que, em consequência, cria condições para fogos maiores.

Se o Estado deixasse o mercado (desculpem, a floresta) em paz, uma mão invisível criaria os equilíbrios adequados. Uma biomassa descontínua provocada por pequenos fogos em concorrência perfeita não permitiria as condições para uma biomassa monopolista.

O corolário é, naturalmente, que o Estado deixe de se meter onde não é chamado, não apague os fogos e, sobretudo, não financie o que, numa resposta a um comentário, JM chama poeticamente de "paisagens inviáveis".

Neste beatífico mundo do laissez faire, é convenientemente esquecido que as práticas de produtores e consumidores não estão de acordo com o modelo e não tomam as decisões supostamente racionais.

Os fundamentalistas liberais só usam na sua cartilha um modelo económico simplificado. Se ouvem falar de "protecção de ecossistemas" sacam do revolver. Se lhes falam de erosão ou processo de desertificação física, assobiam para o lado. Assobiam sempre para o lado cada vez que se lhes complica o modelo introduzindo-lhe realidade.

A ratazana neo-liberal alimenta-se, para mal dos nossos pecados, da incompetência, incúria, desresponsabilização e ganância de vários dos actores desta farsa rasca mil vezes repetida. E que gorda que ela anda!

quinta-feira, julho 29, 2004

Palavras soltas 001

Jornalista: "Meios aéreos já estão no terreno".

Necrologia

Vão hoje a enterrar em vários cemitérios do país mais umas quantas culpas. Solteiras e, muito possivelmente, virgens.

Segundo várias fontes contactadas, estas nossas virgens poderão em breve ser objecto de um lucrativo negócio de exportação para o médio oriente, onde o número de mártires está a fazer disparar o consumo e a escassez é previsível a médio prazo.

Neste mercado, as nossas virgens são particularmente apreciadas, porque já vêem com a culpa como equipamento de série, o que reduz de modo drástico o número médio de virgens exigível por cada mártir.

quarta-feira, julho 28, 2004

A realidade é que se engana

- O ex-presidente da comissão de prevenção dos fogos florestais dizia ontem que a tomada de posse da comissão só ocorreu em Junho porque as boas regras assim o ditam e aparentemente não havia pressa.

- O Ministro da Agricultura enalteceu hoje o esforço feito pelo anterior Governo em matéria de prevenção de fogos florestais.

Ou estes senhores só vêem fogos na Playstation, ou têm argumentos demolidores, ou são cúmplices e irão arder no Inferno. Espero ser esclarecido rapidamente, porque já me cheira a churrasco.

Desculpe, mas...

- Eu gostaria de saber a que guichet devo dirigir-me para apresentar uma queixa contra o Governo que prometeu o ano passado uma política contra os fogos florestais, não fez absolutamente nada e deixou o país a arder novamente.

- Ah, pois, não é aqui... experimente no guichet ao fundo do corredor.

(...)

- Desculpe, pode dar-me uma informação? Pode dizer-me por que motivo a prometida comissão dos fogos florestais só tomou posse em Junho e o ex-presidente da comissão, agora secretário de estado, acha esses prazos correctos e aceitáveis e que não há nada no mundo mais importante que prazos alargados e muitos carimbos?

- Pois, sabe, não lhe posso dar essa informação assim, sem mais nem menos. É necessário um requerimento por escrito ao senhor Ministro.

- E não há outro serviço que me possa informar?

- Pode tentar na secretaria de estado de Santarém.

(...)

- Olhe, desculpe, já me pode atender ou a coscuvilhice é prioritária? Diga-me, por favor se este Governo assume as responsabilidades do anterior e demite-se pelo crime dos fogos florestais ou passámos a ter uma nova figura na nossa original democracia, o Governo inimputável?

- São 16:01. Não vê que estamos encerrados? Tente amanhã. Ou depois de amanhã. Ou nunca, de preferência. 

segunda-feira, julho 26, 2004

Polis algo bruta (*)

Há um mito entranhado e acriticamente utilizado como panaceia para o desenvolvimento do país. É o do "povoamento do interior".

A maioria dos portugueses adultos é urbana de primeira ou, no máximo, de segunda geração. A costela rural ainda sangra. É, por isso, muito fácil acenar com os amanhãs que cantam do regresso às origens. Há um Salazar profundo em cada português.

O despovoamento do interior não é mau em si. O que é mau, na verdade, é a incapacidade do Estado organizar esse despovoamento, dar-lhe um sentido, e usá-lo como alavanca para o desenvolvimento.

O problema deste despovoamento rural é o de não ter sido feita qualquer tentativa de criar pelo menos dois centros demográficos significativos no interior (Vila Real/Viseu e Évora, por exemplo).

A lenta decadência de Coimbra, esmagada entre duas tenazes (Lisboa e Porto) é uma demonstração da incapacidade ou falta de vontade política para um sério ordenamento do território.

Temos uma dúzia de cidades simpáticas e inúteis espalhadas pelo Continente, demasiado pequenas para que possam servir de polo de atracção, demasiado grandes para um destino puramente rural. As nossas cidadezinhas do interior vivem,  desde há muitos anos, como aquela anedota antiga, uma crise de identidade e energia: não sabem quem são e estão muito cansadas para procurar.

Há um problema de massa crítica. Não temos dinheiro para ter uma rede de "cidades médias". Basta-nos ter duas cidades grandes no interior. Só isso. Não é tão é simples?

E precisariamos de áreas metropolitanas multipolares e não centradas no Rossio ou São Bento. Precisariamos de mais Oeiras e menos Odivelas / Amadora / Sintra / Almada..

Precisaríamos, no fundo, de um país ao contrário.

(*) Um pequeno anagrama de "Lisboa Portugal"


Democracia directa

A democracia directa é uma espécie de reality-show constitucional, e é tão democrática como a justiça popular é justa.

Um dia tê-las-emos ambas por cá. No seu canal preferido.

Compre um cão

Do programa do XVI Governo Constitucional:
 
"Garantindo o respeito pela liberdade individual de cada cidadão e das famílias, definir  políticas pro-activas que favoreçam a evolução da taxa de natalidade e invertam a assustadora tendência de envelhecimento da população portuguesa."
 
Pelos vistos temos um governo assustadiço. Medroso. Cagarola.

Chicken.

domingo, julho 25, 2004

Notícias imparciais

Z PLAYBOYA PREMIER
 
48-letni Pedro Santana Lopes, dotychczasowy burmistrz Lizbony, a niegdyś także prezes stołecznego klubu piłkarskiego Sporting i znany playboy, został desygnowany na stanowisko premiera Portugalii. Wcześniej wybrano go również na przewodniczącego rządzącej Partii Socjaldemokratycznej (PDS – wbrew nazwie jest to partia prawicowo-liberalna). Karierę ułatwił mu sukces poprzedniego szefa rządu. José Manuel Duro Barroso złożył rezygnację, bo wkrótce obejmie stanowisko przewodniczącego Komisji Europejskiej. Nowy premier musi jeszcze uzyskać wotum zaufania w parlamencie. Nie powinno być to trudne, choć Lopes ma bardziej prawicowe poglądy niż dotychczasowy premier i lewe skrzydło PDS nie darzy go zaufaniem. Nowy szef rządu zapowiada, że jego głównym celem będzie zwiększenie wzrostu gospodarczego przy zachowaniu reguł paktu stabilizacyjnego dla strefy euro.

in Forum onet.pl


"Metroseksüel" kabine görevde!

Portekiz'e dün yemin ederek göreve başlayan yeni Başbakan Santana Lopes "playboy" olarak anılıyor. Bakanlar da genç ve birbirinden bakımlı.

AB Komisyon Başkanlığı için başbakanlıktan ayrılan Jose Manuel Barosso'nun yerine getirilen Pedro Santana Lopes, dün yeni kabinesiyle yemin ederek görevi dervaldı. Yaptığı siyasetten çok "yaşadığı gönül ilişkileriyle" basının gündeminden düşmeyen Lopes, Portekiz medyasında yanında hep güzel kadınlarla boy gösteriyor. "Playboy" lakabıyla anılan çiçeği burnunda Başbakan Lopes, yakın zaman önce verilen resmi bir davete yanında 9 bayanla giderek gündem yarattı. Lopes, bir isimle daha anılıyor: Portekiz'in Berlusconi'si... Bu isim boşuna takılmamış.

Çünkü Lopes de Milan'ın sabihi ve İtalya Başbakanı Silvio Berlusconi gibi bir dönem Sporting Lisbon'un başkanıydı. Medyayla iş bağlantıları var. Eski Lisbon Belediye Başkanı. Barroso'nun kabinesinden aldığı 6 isimle 19 Bakanı dün Portekiz Devlet Başkanı Jorge Sampaio huzurunda yemin etti. "Playboy" Lopes kadar, göreve getirdiği Bakanları da bakımlı oluşları, genç ve hoş görünümleriyle son dönemde sıkça kullanılan "metroseksüel" tabirini akla getirdi... Ekonomi Bakanı Alvaro Barreto, Savunma Bakanı Paulo Portas, Dışişleri Bakanı Antonio Monteiro'nun "bakımlı erkek" imajı çizdiği gözden kaçmadı.

in Sabah

Calor!

- Amoor! Cheguei!
- E compraste pãezinhos?
- Toca!
- Humm! Ainda estão quentinhos!
- Não, estão quentinhos. Aqueceram pelo caminho.

sexta-feira, julho 23, 2004

Carlos Paredes


Morreu. Provera a nós que fossemos a alma que ele toca.

A Jangada de Pedra



Eis um caso em que a realidade ultrapassa a ficção. O forte vento que nas últimas semanas de fez sentir não é causado, como se pensava, por condições climatéricas específicas, mas pelo facto de o Continente se ter separado de Espanha e se encontrar neste momento à deriva.

Aparentemente, as correntes marítimas estão a levar o território português em direcção à América Latina, e as últimas indicações referem que estamos próximos das águas territoriais brasileiras, em frente à foz do Amazonas.

Decorrem neste momento negociações com o governo brasileiro com vista a atracar Portugal ao Estado do Amapá, mas até agora sem sucesso. O Brasil teme uma vaga de retornados e quer aproveitar o momento para rever a questão dos dentistas brasileiros, impondo condições leoninas. Brasília enviou para o local vários vasos de guerra da sua armada e teme-se uma escalada do conflito.

Entretanto Lisboa, incrédula com esta reacção dos irmãos brasileiros, tem  estudado várias alternativas de amarração. Fontes próximas do primeiro-ministro afirmam que ele veria com bons olhos a aceitação do convite endereçado pelo presidente Hugo Chavez, de quem é amigo pessoal, para que Portugal se junte ao território venezuelano. Alberto João Jardim e a forte comunidade madeirense naquele país são apoiantes entusiásticos desta solução. A localização geo-política da Venezuela tem cativado Pedro Santana Lopes, que recorda a beleza do povo venezuelano.

Contrário a esta opção está Bagão Félix. O Ministro das Finanças preferiria que Portugal encaixasse na Argentina, o que permitiria uma entrada rápida no Mercosul, de forma a poder sacar fundos estruturais. Simultaneamente, o Tratado de Windsor refrearia eventuais tentações hegemónicas da Argentina. Segundo as nossas fontes, após a exposição de Bagão Félix no Conselho de Ministros, Santana Lopez exclamou: "Ó Bagão, mas tu já olhaste bem para as gajas venezuelanas?". O que poderá ser um sinal de que o primeiro-ministro ponderou profundamente os vários argumentos e já tomou uma decisão (isto é, uma decisão diferente para cada um dos próximos dias).

Não é também de excluir que o país se desagregue, espalhando pedaços pela costa de toda a América Latina. Neste cenário de descentralização, cada pedaço de território levará associado um ministério ou uma secretaria de estado. A coordenação deste plano cabe à Secretária de Estado da Defesa dos Antigos Combatentes das Artes e Espectáculo, vulgo, Casa do Artista.

quinta-feira, julho 22, 2004

Ri-te ri-te


Este governo é uma sessão contínua de anedotas gastas e vai deixar no fim o fel amargo de divertimento rasca.

Este governo escreve posts humorísticos inspirados em todos os blogs, dia após dia.

Este é o governo da nossa (des)graça.

Este governo é a nossa cruz.

Já agora: quem é que, no fim, vai ficar a ganhar à sombra dos palhaços, enquanto a multidão ululante se rebola? E quem vai perder?

(Deixem-me adivinhar: os do costume. So, why bother?)

terça-feira, julho 20, 2004

Cobras e amoras

Pelo caminho, vi uma cobra (ao princípio, pareceu-me que mediria uns dois metros, mas agora penso que uns 40 centímetros é mais provável) e comi amoras silvestres, as primeiras deste ano.

Ah, os encantos de ir a pé para o escritório! Adeus, carro!

(Olá, tubos de escape...)

sexta-feira, julho 16, 2004

Canção Nova, Fado Antigo

O meu Estimado Leitor vê o canal "Canção Nova"? Sim, existe um canal com esse nome. Parece que passa umas missas em brasileiro. Não, eu também não vejo.

Mas parece que, entre os reformados e pensionistas, é relativamente popular. Tão popular que, pela calada das férias, a TV Cabo tenha decidido codificá-lo. Assim, cada reformado que pretenda continuar a ver as missas deixará de pagar os actuais 120 euros por ano (contrato básico, desconto de reformado) para 400 euros (contrato normal, powerbox, mensalidade do canal).

Aposto que as acções do grupo PT já estão a subir, graças ao lucro adicional que a TV Cabo brilhantemente vai esmifrar aos reformados, gente reconhecidamente ociosa e bem na vida.

A mim, pessoalmente, dá-me vómitos. E não, não vou comprar acções.
 

segunda-feira, julho 12, 2004

Prioridades

Proust, Shakespeare, Borges, Calvino, Camus. Ou talvez as Memórias de Adriano, mais uma vez. Ou talvez Stephen King. Ou qualquer outro. Todos na estante, à minha espera.

E eu aqui a tentar inventar graçolas sobre Santana Lopes.

Patético.

(Este ano há mais vento ou é o tempo a passar mais, demasiado, depressa?)

Natureza

P. Se o e-government é uma das prioridades do novo governo, para quê gastar dinheiro na transferência de um mamute para Santarém?

PSL. It's in my nature. Na verdade, não pensei muito nisso, mas pareceu-me giro.

(ai...)

domingo, julho 11, 2004

Uma vela, uma bandeira



Para terminar um fim-de-semana mais místico que o habitual no blog (o tempus! o mores!), sugiro que acrescentemos uma vela à bandeira, e rezemos para que a oposição não seja tão idiota como nestes dias se esforçou por demonstrar e que o próximo Governo, com a dupla Pedro Santana Lopes / Paulo Portas (ai...) mostre aaaiiiii.... que tem ... que tem... snif... capacid... aaaaiiiii....

ai... tirem-me daqui, por favor...

snif.

(suspiro)

...

sábado, julho 10, 2004

Homens de pouca fé

Para os que, como eu, têm alguma dificuldade em manter acesa a chama da fé no futuro de Portugal, julgo útil deixar uns links para orações a santos particularmente vocacionados para problemas complexos. Assim:

São Judas Tadeu, padroeiro das causas perdidas: aqui, aqui e aqui.

Santa Rita dos Impossíveis: aqui e aqui.

E, para nos dar força, a oração de Santa Bárbara:

Ó Santa Bárbara, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos furacões, fazei que os raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura.

Ficai sempre ao meu lado para que eu possa enfrentar de fronte erguida e rosto sereno todas as tempestades e batalhas da minha vida, para que, vencedor de todas as lutas, com a consciência do dever cumprido, possa agradecer a vós, minha protectora,e render graças a Deus, criador do céu e da terra. Este Deus que tem o poder de controlar o furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras.

Amém.

sexta-feira, julho 09, 2004

Futuro radioso


Gostaria de expressar a minha grande expectativa quanto ao futuro Governo de Portugal, a minha satisfação por viver este tempo único em que finalmente poderemos ter um Primeiro Ministro com qualidades muito próprias, que saberá certamente rodear-se de uma equipa absolutamente ímpar de políticos do Portugal profundo (de acordo com a sua promessa). Acredito que Pedro Santana Lopes nos irá guiar para a luz ao fundo do túnel desta crise e saberá criar um estado de espírito mais animado em todos os portugueses e portuguesas, de forma a que possamos todos enfrentar com coragem redobrada os grandes desafios que se avizinham.

O país do quase

Quase ganhámos. Somos quase ricos. Por vezes, quase parecemos civilizados.

Falta-nos este niquinho para deixarmos de ser quase. Quase nada.

Zapping

21:00. Na SIC, passa uma reportagem de velhos que ficam internados no hospital mais tempo do que o necessário, porque se fossem para casa passariam fome.

21:00. A TVI diz que o preço da gasolina vai aumentar.

21:00. A RTP mostra como os nossos clientes da Louis Vuitton e da Porsche passam ao lado da crise.

Demasiada realidade num único minuto. Eis o zapping na sua imensa glória, numa fulgurante ascenção social.

terça-feira, julho 06, 2004

As futebolistas da CDCSDME

Parece que vai ser criada, sob proposta d' "Os Verdes", a CDCSDME, isto é, a Comissão de Despistagem de Conteúdos Sexistas e Discriminatórios em Manuais Escolares. Na origem desta proposta está a confrangedora ausência de mulheres futebolistas, mecânicas ou bombeiras nos manuais escolares. A inexistência de bailarinos também deu a sua modesta contribuição (a contribuição que um homem pode dar, enfim).

Deste modo, vamos passar a ter manuais escolares com excesso de adesão à realidade numas páginas (Big Brother e afins) e a mais completa ausência de realidade noutras (o mulherio do corpo de bombeiras numa futebolada de praia, e másculas e oleosas mecânicas a fazer-nos a revisão... humm...). Portanto, em média, teremos manuais escolares que reflectem bem a realidade e que, finalmente, ajudarão a educar uma nova geração sem preconceitos sexistas sobre quem deverá sair da casa no próximo reality show.

Nos Estados Unidos começaram assim, com estas boas intenções. Grupos de pressão de todas as cores contribuiram para a criação de manuais completamente desfasados de qualquer realidade, de acordo com recomentações das editoras:

• Women cannot be depicted as caregivers or doing household chores.
• Men cannot be lawyers or doctors or plumbers. They must be nurturing helpmates.
• Old people cannot be feeble or dependent; they must jog or repair the roof.
• A story that is set in the mountains discriminates against students from flatlands.
• Children cannot be shown as disobedient or in conflict with adults.
• Cake cannot appear in a story because it is not nutritious.


Esta citação é das Editorial Reviews na Amazon, de um livro muito interessante sobre este assunto, de que já falei aqui.


Pobre país do futebol

"Vai ser bonito ver como vai funcionar a síndrome de abstinência, quando, pela enésima milionésima vez, já não se puder falar de futebol."

Entende, JPP, que "já não se puder falar de futebol" é uma impossibilidade nos termos? Entende que, num período de pousio, facilmente os jornais inventam uma transferência-choque para as primeiras páginas? Entende que, por culpa das elites, e com a sua conivência, o único modelo de desenvolvimento que temos é a criação do "país do futebol", modelo perfeito para um povo analfabeto e ciclotímico?

Claro que entende. Os outros, que não têm tanta capacidade de entendimento, limitam-se a gostar de ver jogar à bola. Cortesia do seu partido e do outro mais à esquerda, que nada fizeram para que isto fosse diferente. Para que gostar de futebol fosse um acto de vontade e não de destino.

Raios os partam.

segunda-feira, julho 05, 2004

"Pais Deprimido"

Aparentemente, um jornal intitula hoje "Pais Deprimido". Notável. Andámos a importar auto-estima de má qualidade made in China e agora esboroa-se tudo em 90 minutos?

Acho que precisamos é de um par de estalos para fortalecer o carácter. Começando por certos jornalistas idiotas.

A câmara estava lá

Reacção de um incauto transeunte nas Docas quando um entrevistador lhe perguntou: "Que pensa de Santana Lopes como Primeiro Ministro de Portugal"?



domingo, julho 04, 2004

Ressurgiremos

Ressurgiremos ainda sob os muros de Cnossos
E em Delphos centro do mundo
Ressurgiremos ainda na dura luz de Creta

Ressurgiremos ali onde as palavras
São o nome das coisas
E onde são claros e vivos os contornos
Na aguda luz de Creta

Ressurgiremos ali onde pedra estrela e tempo
São o reino do homem
Ressurgiremos para olhar para a terra de frente
Na luz limpa de Creta

Pois convém tornar claro o coração do homem
E erguer a negra exactidão da cruz
Na luz branca de Creta


Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, julho 03, 2004

Deuses

1. Estou farto dos deuses gregos. Estou farto de trocadilhos pindéricos a toda a hora. Estou farto, por antecipação, da "tragédia grega".

2. No futebol, a barbárie teutónica manchou a beleza helénica e criou a equipa mais trogloditamente eficaz do campeonato. Para quê?

3. Outra acepção de "pindérico" (descobri-a agora no dicionário, desculpem a ignorância) é "magnífico, excelente". De Píndaro, poeta grego. "Creatures of a day, what is a man? What is he not? Mankind is a dream of a shadow. But when a god-given brightness comes, a radiant light rests on men, and a gentle life." Quem disse que o futebol não instrói?

4. Sim, reconheço o sentido de humor muito peculiar dos deuses gregos quando, distraídos por uma eventual vitória num torneio de futebol, deixamos que nos levem a nossa Poeta.

Sophia de Mello Breyner Andresen



Descobrimento

Um oceano de músculos verdes
Um ídolo de muitos braços como um polvo
Caos incorruptível que irrompe
E tumulto ordenado
Bailarino contorcido
Em redor dos navios esticados

Atravessamos fileiras de cavalos
Que sacudiam as crinas nos alísios

O mar tornou-se de repente muito novo e muito antigo
Para mostrar as praias
E um povo
De homens recém-criados ainda cor de barro
Ainda nus ainda deslumbrados


Os navegadores
O múltiplo nos enebria
O espanto nos guia
Com audácia desejo e calculado engenho
Forçámos os limites –
Porém o Deus uno
De desvios nos protege
Por isso ao longo das escadas
Cobrimos de oiro o interior sombrio das igrejas

E agora autoestimas completamente diferentes

Cidade Portuguesa de Mazagão declarada Património Mundial




Paisagem da Cultura da Vinha do Pico declarada Património Mundial


sexta-feira, julho 02, 2004

A Maldição das Três Laranjas

Era uma vez um menino muito pobrezinho que vivia num reino muito distante. Um dia, ia o menino ao mercado quando lhe apareceu ao caminho uma bruxa muito feia e má. E a bruxa disse-lhe:

- Meu menino, vou dar-te estas três laranjas mágicas. Cada uma delas está enfeitiçada, e trará felicidade ou desgraça para todo o reino. Tens de descobrir como se descasca e come cada uma delas. Não as deites fora. Separa-te de uma e imediatamente a maldição cairá.

Dando uma gargalhada gélida, a bruxa má pôs nas mãos do menino as três laranjas e desapareceu numa nuvem de fumo.

O menino, sem saber o que fazer, correu para casa e contou aos pais o que lhe aconteceu. Toda a noite os três olharam para as laranjas, desanimados. De madrugada, o pai disse:

- Não te podemos ajudar, meu filho. Por isso, guarda as laranjas e vai para a cidade, e procura os sábios que estão no palácio.

O menino embrulhou então as três laranjas e dirigiu-se à cidade, onde estava e decorrer um torneio de cavaleiros de diversos reinos. Todos os sábios estavam a ver o torneio e ninguém lhe prestou atenção. Decidiu então esperar pelo fim para tentar novamente.

Na primeira noite, escolheu uma árvore sob a qual iria dormir. Mas, de tanto pensar nas laranjas, não conseguia adormecer. Abriu o embrulho e pôs-se a contemplá-las. Tinha fome, e uma delas parecia-lhe muito apetecível. Esquecendo os avisos do pai e da mãe, descascou-a com cuidado e comeu-a, gomo a gomo, muito devagarinho, sempre à espera da maldição. Demorou mais de duas horas a comer a laranja, e nada acontecia. Finalmente o sono venceu-o e ele adormeceu, feliz sem saber porquê.

Nos dias seguintes, o reino estava em festa porque os seus cavaleiros derrotavam os outros reinos. À medida que a festa aumentava de tom, mais o menino se deixava envolver. As laranjas, esquecidas, começavam a apodrecer.

No último dia do torneio, o menino adormeceu mais feliz que nunca. Na manhã seguinte, lembrou-se das laranjas e viu, horrorizado, que estavam praticamente podres. Correu para o palácio, mas algo tinha acontecido: o rei tinha abdicado e deixara em seu lugar um príncipe janota e vaidoso, que decretara a construção de um novo palácio para as suas mulheres. Quase todos os sábios discutiam ainda o torneio. Os outros discutiam se aquele poderia ser um bom príncipe. Nenhum ligou ao menino, que corria pelo palácio, até que chegou à torre mais alta, de onde avistou grandes labaredas consumindo a floresta.

Sem esperança, deixou-se cair no chão, a chorar. Abriu o saco e, entre vómitos, comeu as laranjas podres. Foi encontrado no dia seguinte, morto, envenenado.

O reino foi consumido pelas chamas, enquanto o príncipe tocava violino.

Muitos anos depois, descobriu-se a maldição e decretou-se que o culpado fora o povo.

As pessoas mudam?

Os ingénuos que acreditam que Pedro Santana Lopes vai tornar-se um primeiro -ministro respeitável, deveriam lembrar-se da fábula do escorpião e da rã:

In the old folk tale, the frog is cautious about ferrying the scorpion across the rain-swollen stream, for fear the scorpion will sting him.

The scorpion calmly points out the absurdity of such an action: "If I were to do that, we would both drown."

The frog agrees to carry the scorpion. But when they reach the middle of the stream, the scorpion does indeed sting him.

Slipping beneath the waves as the paralyzing venom pumps through his body, the frog croaks out, "Why did you do that? Now we'll both drown."

"I can't help it," responds the scorpion. "It's in my nature."

quinta-feira, julho 01, 2004

Túlipas!