sexta-feira, julho 02, 2004

A Maldição das Três Laranjas

Era uma vez um menino muito pobrezinho que vivia num reino muito distante. Um dia, ia o menino ao mercado quando lhe apareceu ao caminho uma bruxa muito feia e má. E a bruxa disse-lhe:

- Meu menino, vou dar-te estas três laranjas mágicas. Cada uma delas está enfeitiçada, e trará felicidade ou desgraça para todo o reino. Tens de descobrir como se descasca e come cada uma delas. Não as deites fora. Separa-te de uma e imediatamente a maldição cairá.

Dando uma gargalhada gélida, a bruxa má pôs nas mãos do menino as três laranjas e desapareceu numa nuvem de fumo.

O menino, sem saber o que fazer, correu para casa e contou aos pais o que lhe aconteceu. Toda a noite os três olharam para as laranjas, desanimados. De madrugada, o pai disse:

- Não te podemos ajudar, meu filho. Por isso, guarda as laranjas e vai para a cidade, e procura os sábios que estão no palácio.

O menino embrulhou então as três laranjas e dirigiu-se à cidade, onde estava e decorrer um torneio de cavaleiros de diversos reinos. Todos os sábios estavam a ver o torneio e ninguém lhe prestou atenção. Decidiu então esperar pelo fim para tentar novamente.

Na primeira noite, escolheu uma árvore sob a qual iria dormir. Mas, de tanto pensar nas laranjas, não conseguia adormecer. Abriu o embrulho e pôs-se a contemplá-las. Tinha fome, e uma delas parecia-lhe muito apetecível. Esquecendo os avisos do pai e da mãe, descascou-a com cuidado e comeu-a, gomo a gomo, muito devagarinho, sempre à espera da maldição. Demorou mais de duas horas a comer a laranja, e nada acontecia. Finalmente o sono venceu-o e ele adormeceu, feliz sem saber porquê.

Nos dias seguintes, o reino estava em festa porque os seus cavaleiros derrotavam os outros reinos. À medida que a festa aumentava de tom, mais o menino se deixava envolver. As laranjas, esquecidas, começavam a apodrecer.

No último dia do torneio, o menino adormeceu mais feliz que nunca. Na manhã seguinte, lembrou-se das laranjas e viu, horrorizado, que estavam praticamente podres. Correu para o palácio, mas algo tinha acontecido: o rei tinha abdicado e deixara em seu lugar um príncipe janota e vaidoso, que decretara a construção de um novo palácio para as suas mulheres. Quase todos os sábios discutiam ainda o torneio. Os outros discutiam se aquele poderia ser um bom príncipe. Nenhum ligou ao menino, que corria pelo palácio, até que chegou à torre mais alta, de onde avistou grandes labaredas consumindo a floresta.

Sem esperança, deixou-se cair no chão, a chorar. Abriu o saco e, entre vómitos, comeu as laranjas podres. Foi encontrado no dia seguinte, morto, envenenado.

O reino foi consumido pelas chamas, enquanto o príncipe tocava violino.

Muitos anos depois, descobriu-se a maldição e decretou-se que o culpado fora o povo.