Polis algo bruta (*)
Há um mito entranhado e acriticamente utilizado como panaceia para o desenvolvimento do país. É o do "povoamento do interior".
A maioria dos portugueses adultos é urbana de primeira ou, no máximo, de segunda geração. A costela rural ainda sangra. É, por isso, muito fácil acenar com os amanhãs que cantam do regresso às origens. Há um Salazar profundo em cada português.
O despovoamento do interior não é mau em si. O que é mau, na verdade, é a incapacidade do Estado organizar esse despovoamento, dar-lhe um sentido, e usá-lo como alavanca para o desenvolvimento.
O problema deste despovoamento rural é o de não ter sido feita qualquer tentativa de criar pelo menos dois centros demográficos significativos no interior (Vila Real/Viseu e Évora, por exemplo).
A lenta decadência de Coimbra, esmagada entre duas tenazes (Lisboa e Porto) é uma demonstração da incapacidade ou falta de vontade política para um sério ordenamento do território.
Temos uma dúzia de cidades simpáticas e inúteis espalhadas pelo Continente, demasiado pequenas para que possam servir de polo de atracção, demasiado grandes para um destino puramente rural. As nossas cidadezinhas do interior vivem, desde há muitos anos, como aquela anedota antiga, uma crise de identidade e energia: não sabem quem são e estão muito cansadas para procurar.
Há um problema de massa crítica. Não temos dinheiro para ter uma rede de "cidades médias". Basta-nos ter duas cidades grandes no interior. Só isso. Não é tão é simples?
E precisariamos de áreas metropolitanas multipolares e não centradas no Rossio ou São Bento. Precisariamos de mais Oeiras e menos Odivelas / Amadora / Sintra / Almada..
Precisaríamos, no fundo, de um país ao contrário.
(*) Um pequeno anagrama de "Lisboa Portugal"
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