segunda-feira, abril 19, 2004

Moda, costume e folclore

O costume é uma moda que soube envelhecer. Não nasce ex nihilo, não é imutável e tem prazo de validade. Depende do caldo de cultura e natureza em que surgiu e de condições arbitrárias que o levaram a ser reconhecido e legitimado pela comunidade.

O folclore é o costume fora de prazo, desadaptado das circunstâncias. É memória e nostalgia, é "retorta de alquimista, mapa do mundo distante".

E depois temos a globalização. É fácil jantar na Tailândia na segunda, na Russia na terça, no Japão na quarta, em Espanha na quinta, na Argentina na sexta e na Itália no sábado. E até posso ir a pé. Mas, Jacinto cansado de tanta civilização, talvez queira no domingo um simples prato de arroz doce. A tragédia cultural da globalização só acontecerá se nos quiserem mudar a receita do arroz-doce.

Por mais que goste de sushi, nunca o saberei verdadeiramente apreciar, porque me falta toda a cultura que o produziu. Mas, ao comer sushi, estou também a tomar consciência das diferenças culturais. Aconselho vivamente todos os frequentadores de restaurantes japoneses a munirem-se de qualquer objecto de registo de pensamentos para que possam anotar o que é ser português quando a dúvida se instalar sobre qual o molho correcto do sushi.

As Maltesinhas de Beja é um dos muitos soldados espalhados por Portugal que montam guarda ao arroz-doce. Talvez não precisemos de generais, mas precisamos de estratégias que façam as papas de sarrabulho marchar junto do pão-de-ló de Alfeizerão, cantando em uníssono com o abade de Priscos e dando alento aos peixinhos da horta.

Marchemos, portanto!