terça-feira, novembro 04, 2003

Repto aceite

"Fico optimista (bolas!) quando vejo textos destes. O primeiro passo para mudar algo e' fazer o diagnostico correcto. Agora faltam as solucoes..." Paulo "Bloguitica" Gorjão dixit.

Paulo: o problema é ligeiramente mais profundo. Textos como o que escrevi fazem parte do problema. E não há soluções. Estamos, portanto, num beco sem saída.

O meu post vem, humildemente, na linha de milhares de outros, muito mais bem escritos e fundamentados. As reacções são sempre idênticas. Os desesperados optimistas dizem: "ok. Temos uma base, um diagnóstico. Agora basta arregaçar as mangas e mudar isto." Os deprimidos da vida/miserabilistas/masoquistas adoram, porque justifica a sua inércia (estou entre estes). Total: 0.1% da população. Depois temos 90% que nem sequer sabe que há um problema. Os restantes 9.9% estão-se nas tintas ou beneficiam objectivamente com o problema. Em resumo, os diagnósticos apenas demonstram que não sabemos fazer mais nada. São, por isso, parte do problema.

Não há soluções. Se boa parte das responsabilidades do nosso estado de sempre se deveu à natureza das nossas elites, e se não é possível resolver muitos dos problemas sem elas, que soluções podemos ter? Só importar elites. Aposto que as espanholas não se importariam de serem importadas.

Quanto ao "enorme defice de civismo e de cidadania dos portugueses": isto decorre da iliteracia, por um lado, e da incapacidade de transmissão desses valores à sociedade por parte, novamente, das elites, que também não os praticam.

Há um fado da Amália com uma letra paradigmática: "Não peças demais à vida, aceita o que ela te der". Este fado espelha muito a atitude que o Estado Novo esperava do povo: a submissão, a vidinha sem risco... A prática da cidadania é contra este espírito, porque implica, quando necessário, o conflito.

Dizer que há um "enorme defice de civismo e de cidadania dos portugueses" e culpá-los por isso é o mesmo que não ter escolas e dizer: "estúpidos, não sabem ler". É ter como prato principal de discussão pública durante dias um pontapé dado por um concorrente num programa de televisão idiota e depois dizer: "estúpidos, não discutem o Orçamento de Estado".

Aqui está, caro Paulo Gorjão, a resposta ao repto. Creio que ganhei (Portugal perde, naturalmente), embora seja necessário esperar pela resposta do outro concorrente.

Onde posso recolher o meu prémio?

(amador...)