sábado, outubro 11, 2003

Um grão de areia

As citações abaixo referem-se ao mesmo acontecimento, relatado pelos dois principais jornais da Madeira, no mesmo dia (31 de Agosto). Repito: trata-se do mesmo acontecimento, e cito as notícias na íntegra. E não digo mais nada, porque me apetece dizer muito. É destes pequenos doces que os cínicos se alimentam.


Jornal da Madeira

"Livro de João Baptista do Centro de Congressos do Porto Santo: Areia retratada em livro

O Centro de Congresssos Porto Santo foi, ontem, palco do lançamento do livro de João Baptista Pereira Silva, intitulado "Areia da Praia de Porto Santo: geologia, génese, dinâmica e propriedades justificativas do seu interesse medicinal"
Uma obra que resulta de uma análise intensiva da singular areia da ilha, bem como da água, salgada ou de nascente, e de diversos outros recursos naturais de Porto Santo.
Na cerimónia de lançamento, o autor, natural da Madeira, não deixou passar a oportunidade de agradecer a todas as entidades que o apoiaram nos diversos passos de investigação e de escrita, de entre os quais se destacam o presidente do Governo Regional, os anterior a actual directores regionais dos Assuntos Culturais, a Câmara do Porto Santo e o professor Celso Gomes, da Universidade de Aveiro, orientador das investigações efectuadas, revisor do texto e autor do prólogo.
Igualmente presente no evento, o presidente da Câmara Municipal do Porto Santo, Roberto Silva, não deixou de tecer fortes elogios à obra e ao próprio escritor, salientando que, "como destino turístico que o Porto Santo é, tudo o que sejam trabalhos sobre a ilha são sempre importantes". Para além disso, fez referência ao facto de o autor ser já acarinhado pelos porto-santenses, tendo em conta que já fez diversos trabalhos sobre a ilha.
Por seu turno, Celso Gomes, a quem ficou a cargo a apresentação do livro, não deixou de dirigir palavras de apreço àquele que já foi seu discípulo, pela qualidade do trabalho realizado. Segundo as suas palavras, "escrever um livro é sempre um risco que se corre, mas esta obra exprime sem medo o pensamento do autor". Recorde-se que foi no final da sua licenciatura, em 1996, que João Baptista começou o estudo das areias de Porto Santo, matéria que acabou por ser o tema da sua tese de doutoramento.
De salientar ainda que, para além do resultado das investigações efectuadas, a obra comporta 600 fotografias registadas até Janeiro deste ano e custou, na totalidade, 55 mil euros."




Diário de notícias

"Patrocinadores faltaram à apresentação do livro de Baptista

Jardim não gostou dos resultados da investigação, como tal, a Secretaria do Turismo e a Sociedade de Desenvolvimento meteram... férias.
A apresentação do Livro de João Baptista "Areia da Praia da Ilha do Porto Santo", que decorreu ontem, ficou marcada pelas ausências, pois não é todos os dias que os principais patrocinadores da publicação de uma obra não comparecem, nem se fazem representar, no acto formal de apresentação da mesma.
Foram enviados cerca de "mil convites" e, embora o auditório do Centro de Congressos do Porto Santo estivesse composto, as cadeiras nas onde se sentariam representantes da Presidência do Governo Regional, da Secretaria Regional do Turismo e Cultura ou da Sociedade de Desenvolvimento estavam vazias.
Entre os patrocinadores institucionais só o presidente da Câmara Municipal do Porto Santo compareceu. No discurso que efectuou, destacou-se uma frase: «Temos de ter consciência de que, possivelmente, devemos melhorar em alguns aspectos, por isso, não há que ter medo dos estudos, pois eles são um complemento para quem tem de decidir».
Também a Universidade da Madeira (UMa) ignorou a cerimónia de ontem, facto criticado por Celso Gomes, professor catedrático da Universidade de Aveiro, e orientador científico da investigação feita por João Baptista.
As ausências podem ter ficado a dever-se ao facto de as conclusões retiradas do estudo não serem «agradáveis à vista», ou seja, a investigação levou o autor a concluir entre outras coisas, que no período compreendido entre 1947 e 1995 registaram-se recuos da linha de costa na ordem dos 40 metros, no sector oriental da praia, e de 90 metros, no sector ocidental. A tendência deverá continuar.
João Baptista preferiu desvalorizar as faltas, dizendo que elas se ficaram a dever ao facto de se estar num período de férias. «São opções que nós temos de respeitar», disse o investigador, revelando que, quando as entidades aceitaram patrocinar o estudo, tinham como objectivo estudar devidamente o problema, o que veio a ser feito. Os resultados, diz, interessam não só aos porto-santenses, mas também aos investidores actuais e futuros.
Dadas as conclusões, o trabalho de investigação agora publicado também apresenta caminhos a seguir. Para proteger as dunas, há que disciplinar os acessos à praia, construindo um maior número de passadeiras de madeira e diminuindo os acessos indiscriminados, há que evitar toda e qualquer construção, é urgente reflorestar o cordão dunar. Deve estudar-se a geometria do molhe e contramolhe do Porto de Abrigo, que deve ser dragado, e reforçar com areia os núcleos de erosão junto à praia da Calheta e ao Hotel Lua Mar. Em resumo, é urgente criar sinergias entre os sectores público e privado, e há que investir."