segunda-feira, outubro 06, 2003

Uma ideia genial

O projecto do governo de vender dívidas fiscais ao sector privado é uma das mais geniais ideias dos últimos tempos e, se avançar, vai ter como consequência um boom económico sem precedentes. Vejamos.

Os privados vão, naturalmente, cobrar as dívidas. E qual é a forma mais eficaz de cobrar dívidas? Com o cobrador do fraque! Ora, tendo em conta a quantidade de portugueses que fogem ao fisco e/ou tem dívidas fiscais, vão ser necessários batalhões de cobradores de fraque. Rapidamente teremos mais cobradores que professores, por exemplo. E todos impecavelmente vestidos. E todos fazendo os seus happenings junto dos prevaricadores dezenas de vezes, todos os dias.

Para além do emprego gerado, gostaria que reparassem nisto do ponto de vista do turismo. Onde, em qualquer outro ponto do mundo, um turista poderá apreciar metade de um país a fugir da outra metade, vestida de fraque? Proponho que se avance rapidamente e sem concurso público com o aeroporto da Ota, para que tenhamos capacidade que gerir a avalanche de turistas que nos irão bater à porta. Além disso, teremos também receitas excepcionais resultantes dos direitos televisivos vendidos para todo o mundo.

Se o Governo se despachar, teremos um Europeu 2004 absolutamente hilariante, com cobradores de fraque correndo pelo campo atrás de algum jogador menos respeitador dos seus compromissos. Isto sem falar do que se passará nas bancadas.

Convém ainda criar sinergias com outras áreas, para exponenciar o efeito da medida. Uma delas é a selecção dos novos ocupantes de cargos públicos. É imprescindível que Governo e Oposição se ponham de acordo no apoio a Santana Lopes para Presidente da República e de Alberto João Jardim para comissário europeu. Quanto ao PS, vive o espírito do projecto avant la lettre.

A iniciativa privada não directamente ligada ao novo nicho de mercado deverá também participar deste esforço nacional. Muitos já deram provas de imenso talento. Lembro, por exemplo, a estranha doença que, há uns anos atrás, atacou as árvores em linha recta, por sinal onde uma urbanização pretendia fazer uma estrada. Exemplos como este devem ser devidamente publicitados através de livros, websites, DVDs...

Penso, sinceramente, que temos aqui uma nova oportunidade. Não aproveitámos o ouro do Brasil nem os fundos comunitários. Será que estaremos à altura de aproveitar esta?