terça-feira, setembro 16, 2003

O urinol e os seus detractores (agrícolas?) - Parte I

O urinol é um espaço sagrado. O urinol é o lugar onde os homens verdadeiramente se medem, onde o escravo pode ser maior que o amo, onde, como em mais nenhum outro lugar, sabemos que a aflição dará sempre lugar à felicidade, e onde os suspiros rivalizam com outros momentos de prazer carnal.

O urinol é sagrado porque devolvemos à Natureza os fluxos que dela recebemos. A felicidade que experimentamos nesse lugar é uma felicidade básica, de comunhão primeva. Aí purificamo-nos e tornamo-nos de novo disponíveis para as dádivas da Grande Mãe Imperial.

Nesta sociedade paganizada, do consumo incontinente, da recompensa imediata, símbolos ancestrais que pontuavam a vida do homem e da sociedade são aviltados de uma forma que, há apenas uma ou duas gerações atrás, se julgaria impensável. O urinol não deixa de sofrer com esta evolução: o consumo chegou ao urinol, como um dia chegará à igreja; multiplicam-se os espaços de micção ad'hoc; o próprio formato do urinol sofre as piores barbaridades às mãos de designers sem escrúpulos. Denunciar esta evolução é mijar contra o vento da história, mas sempre haverá D. Quixotes.