segunda-feira, janeiro 26, 2004

Pequeno manifesto dos medíocres

No programa "Directo ao Assunto", na TSF (que pode ser ouvido aqui), um dos participantes, que não consegui identificar, teve a seguinte intervenção lapidar:

"Actualmente, eu acho que o nível da mediocridade (que se mantém medíocre) subiu. E, quanto a mim, a cultura de um país deve ser medida não em termos das elites, que sempre foram muito boas (e Portugal sempre as teve muitíssimo boas) mas quanto mais alta é a mediocridade. Parece-me que em Portugal a nossa horrenda mediocridade é muito melhor do que era há trinta anos, ou quarenta anos ou cinquenta anos."

Estas frases representam o problema de Portugal (já o escrevi noutro post). Ao que este senhor chama "mediocridade" outros já chamaram "a choldra", isto é, o povo. Ao contrapor "mediocridade" às elites, ele demonstra a mediocridade das elites portuguesas, e a sua total aversão ao povo que as suporta.

Este exercício de auto-glorificação ("sempre as teve muitíssimo boas") é uma verbalização da tragédia nacional: elites inúteis, satisfeitas e fartas consigo próprias, incapazes de fazer aquilo para que são pagas por aqueles que despreza: governar, dirigir, propor destinos, inovar, descobrir, transmitir valores de civilização. E não pagam impostos.

As nossas elites económicas são donas dos pasquins televisivos. As nossas elites culturais riem-se da ignorância e fazem manuais escolares com o Big Brother. As nossas elites políticas gerem o Estado como coutada pessoal de amigos e familiares.

"Horrenda mediocridade"? Desculpe mas, meu caro senhor, indo Directo ao Assunto, vá à merda.