Consciência de Não
Uma das partes chatas das ciências sociais (há muitas, eu sei) é aquela que faz com que a análise de um fenómeno altere o próprio fenómeno. Dois e dois serão sempre quatro, e um átomo reagirá sempre da mesma maneira a uma descarga de energia. Mas o comportamento de um indivíduo é sempre influenciado por saber que está a ser observado.
Os tiques dos amigos (especialmente os seus bordões de linguagem) são um campo fértil de análise. Há expressões que identificam pessoas, e fazem parte do nosso afecto por elas. Expressões que associamos a alguém, ditas por terceiros, despertam em nós reacções automáticas, como um cheiro de infância.
Ora, é justo (e benéfico) revelar a alguém que amamos essa sua particularidade? A maioria das vezes a revelação conduz à mudança do comportamento, suprimindo a expressão. Mas, como a coisa não é automática, os primeiros tempos serão muito difíceis. Já repararam como nos sentimos patetas quando a mecânica da fala está em pleno movimento, imparável, e nós, horrorizados, percebemos que não queremos dizer aquilo?
Este "conhece-te a ti mesmo" imposto do exterior pode ser traumatizante. Utilizado sem sensibilidade, pode ser cruelmente devastador. O último post do Aviz é elucidativo. Ele mostra que o meu insensível exercício contabilístico pode ter provocado efeitos indesejáveis. Cada vez que o FJV escrever "não" vai fazer soar uma campainha, como aqueles indivíduos hipnotizados que são programados para uma certa reacção cada vez que alguém bater palmas.
Estou muito embaraçado pelo meu uso irresponsável da ciência.
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