terça-feira, abril 27, 2004

Apito brilhante

Como acontece frequentemente com os espíritos sensíveis, a contemplação e a compreensão do Belo gera em mim uma angústia, um marejar dos olhos que, acto continuo, se transmuta num soluço de felicidade. "You said to me once that pathos left you unmoved, but that beauty, mere beauty, could fill your eyes with tears."

Qualquer arte tem momentos em que se inscreve na esfera do divino. Esses momentos deveriam ser reservados apenas para os deuses e seus protegidos.

A falta de vergonha é uma arte pouco compreendida mas muito praticada, e temos bons mestres em Portugal. Penso que seremos dos melhores a nível mundial.

Um exemplo de pura perfeição artística é o de ligar Planos Especiais de Realojamento à aquisição de camarotes no estádio do Boavista. Está ao nível, por exemplo, da estranha doença que atacou as árvores em linha recta na Urbanização de Santo Estêvão, por coincidência no local para onde estava planeada uma estrada.

Quando li esta notícia (obrigado, do Portugal Profundo) fiquei absolutamente siderado perante a beleza do conceito, e a custo estanquei as lágrimas.

Acho que deveriamos fuzilar os seus autores imediatamente. A nenhum artista que atinge a beleza suprema deveria ser dado o direito de viver para além da concepção do objecto. O resto da sua vida acaba sempre por se tornar um aborrecimento para ele e para quem tem de o aturar.