quinta-feira, maio 27, 2004

Porto


1. Como sulista, elitista, pseudo-cosmopolita e, enfim, mouro, tenho por Rui Rio a maior admiração. Se ele ganhar as próximas eleições, saberei que Portugal ainda não está completamente perdido.

2. Para um leigo, o que impressiona no FCP é a armadura psicológica da equipa que faz lembrar a táctica romana da tartaruga. Cada jogador parece diluir-se na equipa e, ao mesmo tempo, ultrapassar-se devido à equipa. E é tão eficaz que se transmite ao espectador: é natural que o Porto ganhe, seja qual for a equipa. Não porque tem o jogador A ou B ou C mas porque é a equipa.

3. Para Portugal, o Porto é um corpo estranho, e muito pouco português. A transformação de um grupo numa equipa nunca acontece em Portugal. E assumir, humildemente, o princípio de que pode ganhar seja o que for, seja a quem for, é completamente absurdo, excepto quando estamos na fase ciclotímica adequada (até que um cão ladra e lá se vai a bravata).

4. Claro que a nossa popular ciclotimia nunca nos levou a lado nenhum, mas é muito mais divertida do que esta coisa da eficiência, eficácia, concentração, planeamento... (e, além disso, estamos aqui tão bem, a dizer mal de nós, como eu, aqui, agora, e sempre).