Petição Contra a Pontualidade (um protesto atrasado)
Um dos nossos problemas como nação é a falta de respeito pelos nossos próprios hábitos e costumes. Julgamos que tudo o que é estrangeiro é melhor (excepto se for espanhol), o que muitas vezes se revela um juízo precipitado.
A importação de modelos estangeiros é errada, porque vai contra a a nossa maneira mais intrínseca de ser e de fazer. Quando imitamos, imitamos mal. Nunca seremos bons fazendo mal o que os outros fazem bem. A nossa diferenciação tem de partir da análise séria das nossas verdadeiras vantagens competitivas.
Temos de assumir que, na perspectiva do modelo de desenvolvimento europeu, a forma de ser portuguesa tem muitos defeitos. Alguns são definitivamente inaproveitáveis. Outros podem tornar-se na nossa diferença, a nossa marca específica.
A petição pela criação de um ano da Pontualidade, actualmente a decorrer assume, erradamente, que seremos melhores se formos pontuais. Mas podemos competir com ingleses e alemães, por exemplo, no campeonato da pontualidade? Alguém acredita nisso? Ou é mais fácil acreditar que desceríamos de divisão na primeira oportunidade?
Não ser pontual é não ser escravo do tempo e das circunstâncias. Não ser escravo do tempo é uma manifestação de qualidade de vida. Quem pode ser pontual nestes dias de sol de Novembro? Os alemães, escandinavos e outros quejandos, amarrados ao seu eterno tic-tac, tic-tac (reparem como a fonética é semelhante a diktat), nunca poderão almoçar num dia de trabalho numa esplanada ao sol de Novembro. Deixem-nos lá, coitados, com a sua tralha, os seus Volvos, os seus Mercedes. Isso compra-se.
Não se compra o sol.
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